segunda-feira, 14 de abril de 2008

A Modern Short Story

Ela chegava sempre no mesmo horário à estação, e pode reparar que devia ter havido algum problema com o trem. "Nunca há tantas pessoas assim na estação às 7:20 da manhã!", pensou.

Nesse horário, os trens costumavam passar de 3 em 3 minutos no máximo. De qualquer forma, o próximo trem chegaria em 2 minutos. E veio cheio de gente.

Ela sempre entrava no mesmo vagão, todos os dias. Já sabia o local certo onde a porta se abriria. Nesse dia, estava lá parada, no mesmo lugar, esperando a porta se abrir.

E eis que ela se abriu, e ela adentrou o vagão. E aí, a visão: lá estava o homem, em pé, parado. Devido ao fluxo de pessoas para dentro do vagão, ela acabou ficando de pé ao lado dele.

Comecou a analisá-lo, de início com uma certa curiosidade. Vestido normalmente, nem executivo nem pedreiro. Calças cáqui, camisa e um casaco preto de lã que chegava na altura da coxa.

O trem deu um tranco, ele encostou no pé dela. Ela olhava para baixo, ele usava sapatos de couro preto. Instintivamente ao sentir o esbarrão ela olhou para cima, e seus olhos se encontraram. "Sorry", disse ele. Ela tentou esboçar um sorriso.

Mas não dava. Já estava suando frio. Já estava entrando em pânico. "Devo saltar agora do trem nessa estação ou espero chegar a minha?". Desde que havia entrado no trem e encontrado o estranho, só uma estação se havia passado. Estavam na segunda. E sua baldeação seria apenas na terceira.

"Saio ou nao saio?", só conseguia pensar nisso. Estava com vontade de gritar, de chamar a atenção de todo mundo. Olhava nervosamente para o celular nas mãos dele. Lia mensagens de texto enormes. Seriam instruções?

Ela se lembrou de quando seus olhos se encontraram. O "sorry" dele foi meio balbuciante, como se tivesse sido pego de surpresa. Mas o olhar, ah o olhar era frio, muito frio.

"Saio ou nao saio?", e apesar de reparar que o homem era magro e que nada havia debaixo de seu casaco, ele portava uma mochila. O calor dentro do trem estava ficando simplesmente insuportável.

"The next station is Finchley Road, change to the Metropolitan Line". Ela saiu finalmente do vagão e respirou o ar gelado da manhã. Era bom estar viva, muito bom.

Ele não explodiu o trem.

2 comentários:

António Conceição disse...

... Cá fora, viu a multidão ainda calma. Levaria alguns minutos até que o gás que ela deixara na carruagem se espalhasse por todo o túnel e a fuga dos infiéis se tornasse impossível.
Riu da gente asfixiada cujo pânico já imaginava.
E aquele cão cretino que queria estragalhar-lhe a cena, fazendo-se rebentar em nome de Alá. Oxalá fosse o último a morrer sufocado com os pulmões a arderem-lhe de dor e de raiva.
A grande Deusa Kahli, a temível, havia de lhe proporcionar a morte dolorosa que guarda para os cães.
Só Kahli é poderosa e vingadora - pensou.
E afastou-se apressada da estação.

Zé Costa disse...

Muito bom!