domingo, 4 de maio de 2008

Is God Brazilian?

A gente adora repetir por aí que "Deus é brasileiro". Eu nunca me convenci da idéia, claro. Se Deus fosse mesmo brasileiro, não teríamos essa droga de país, teríamos coisa bem melhor. Ah mas porque não temos furacões nem terremotos nem vulcões, Deus é brasileiro. Tenho para mim que, assim como "não existe pecado ao sul do Equador", o Brasil nunca foi governado por Deus, mas por seu rival número 1. E justamente por isso nunca havíamos tido todos esses desastres naturais.

Há pesquisas científicas que relatam que, quanto mais uma população sofre adversidades, mais ela se desenvolve. Quanto menos adversidades, mais pré-histórica é a civilização. Dá para entender a lógica do raciocínio. Imagina se Cabral não tivesse desembarcado por aí, estaríamos até hoje na Idade da Pedra.

Mas, recentemente, parece que Deus anda olhando para essas bandas mesmo, com vontade. Não apenas ganhamos o direito de ter os nossos ciclones e ventos de 100 kmh, além dos pequenos terremotos, como ainda recebemos o investment grade. Agora, para ficar completo, só falta descobrirmos um vulcão em atividade.

7 comentários:

Lelec disse...

Chère Patrícia,

Como vê, estou sempre vindo aqui. Não o faço para lhe importunar; faço-o porque gosto de visitar seu blog e de ler seus textos.

Eu não acho fácil entender essa proposição apoiada "por pesquisas científicas" (quais pesquisas? Que referências?) que diz que adversidades levam ao desenvolvimento.

Essa idéia tem certo sentido à primeira vista, mas não explica um montão de coisas.

Por exemplo: estou lendo um sensacional livro ("The naked Bible"), de Israel Filkenstein, a maior autoridade mundial em arqueologia bíblica. Ele demostra com provas arqueológicas que o reino de Judá era menos desenvolvido que o reino de Israel nos séculos X e IX antes de Cristo. Segundo suas pesquisas, a geografia inóspida das terras de Judá explica em parte o subdesenvolvimento do reino sulista.

Mas não precisamos ir tão longe para ver que essa equação "adversidade = desenvolvimento" não faz muito sentido.

Por que então o litoral da Austrália é mais desenvolvido que a região central?

Por que a França é mais desenvolvida que o Sahel saariano?

E um exemplo pertinho da gente: por que o Nordeste é menos desenvolvido que o Sudeste?

Essas idéias, (lembra-me aquela de Max Weber, que associou protestantismo a desenvolvimento e catolicismo a atraso econômico) não são tão válidas assim...

Como você, não acredito que seja a nacionalidade de Deus que explica todas essas diferenças.

Kiss,

Lelec

Blogildo disse...

Deus é cosmopolita. rsrsrs!

patricia m. disse...

Lelec, depois procuro a pesquisa que li, mas é fato. Obviamente não estamos falando de populações recentes, né. Então nada a ver a sua comparação do sertão australiano com a costa. Muito menos a droga do Nordeste. Os isralenses fizeram maravilhas do seu deserto, coisa que os melecas dos palestinos nunca conseguiram.

Um indio pelado no Amazonas que nao precisava nem fabricar roupa se encontra na Idade da Pedra. Os seres humanos evoluem porque tentam encontrar uma resposta/reação ao meio. Ou você acha que evoluímos porque nos deu na telha, assim tipo, é legal, maneiro?

Se ainda estivéssemos no Jardim do Éden, estaríamos ainda pelados, como Adão e Eva. Mas essa fica para o Blogildo especular, não eu.

patricia m. disse...

E eu não disse que para ser desenvolvido tem que morar em local inóspito. Um pouco de ajuda do ambiente é bem vindo.

patricia m. disse...

Você pegou desertos e está comparando com a Europa. Pega a melequíssima do Brasil na época de Cabral, nenhum desertinho, e aquela população pavorosa de índios semi-estúpidos.

patricia m. disse...

Blogildo, concordo, haha. É para tirar sarro de brasileiro mané que adora repetir que Deus é brasileiro...

Lelec disse...

Olá...

Não acredito que os povos se desenvolvem "porque dá ná telha, né?"

Eu concordo com a idéia de que a pressão da geografia pode ser um motivador para que as populações busquem alternativas (nem que seja a migração). Eu momento algum eu neguei isso.

O que disse apenas é que isso não explica tudo.

Concordo também que deva haver recursos naturais outros que permitam ao povo se desenvolver.

Há alguns dias, li um texto de um historiados (esqueci o nome, me desculpe) que dizia que um dos fatores que contribuiu para o desenvolvimento da Europa ao longo dos séculos foi o fato do continente ser uma encruzilhada de diferentes populações, que traziam culturas e tecnologias distintas, que foram misturadas e melhoradas: os mouros árabes, os vikings, os judeus, etc... Outros povos em outros continentes cresceram em relativo isolamento, o que teria contribuído para o atraso em relação à Europa: veja o caso dos índios da América.

Creio que essa explicação ajuda a entender algumas coisas (mas, é claro, também não explica tudo). O desenvolvimento de São Paulo em relação ao Nordeste pode ter se beneficiado disso: japoneses, italianos, judeus, portugueses, negros, juntos fizeram a cidade mais rica do país. Assim como a migração de judeus de todo o mundo em direção a Israel no pós-1948, que rapidamente fizeram ali um país desenvolvido.

O que acha?

Kiss,

Lelec