domingo, 11 de maio de 2008

Cicatrizes de Guerra

Pois bem, hoje o dia está magnífico. Aliás, a semana toda foi magnífica, e a próxima semana que se inicia também promete temperaturas amenas e um vento agradável, além do sol estatelado no céu azul sem nuvens.

Abro todas as janelas da casa e deixo o vento entrar. O meu quarto está no segundo andar da casa e a janela dá para a rua - foi de onde tirei aquelas fotos tempos atrás. Aliás, já está tudo verdinho novamente, claro, como na primeira foto.

Não há grades em nenhuma parte da casa, obviamente, como seria de se esperar se estivéssemos no Brasil. Apesar de ser no segundo andar, penso que ainda assim seria fácil escalar e entrar. Se vou à parte de baixo da casa, fecho pois as janelas do segundo andar que dão para a rua.

Não, nunca ninguém entrou em nenhuma casa ou apartamento em que morei no Brasil. Mas e o medo? E as estórias petrificantes de vizinhos e amigos, contando sobre meliantes dando gargalhadas com armas apontadas, prontas a disparar ao menor descuido?

É raro bandidos andarem armados aqui. Em geral andam com facas, não revólveres. Morrem mais pessoas em Londres em brigas de rua do que em assaltos e coisas do gênereo. E é difícil haver invasão de casas, mais ainda quando há pessoas dentro. Eles preferem entrar quando não há ninguém em casa.

Mesmo assim, por menor que seja a probabilidade, não consigo deixar a janela aberta. São cicatrizes de guerra, impressas na alma desde a mais tenra infância.

Gostaria de acreditar mais na raça humana. Gostaria de não ser tão desconfiada assim de tudo e de todos. Creio no entanto que teria de morrer e nascer novamente para que isso aconteça.

9 comentários:

Lelec disse...

Oi Patrícia,

Parabéns pelo texto! Gostei bastante.

Retrata um pouco a "neurose residual" que tenho pelas ruas de Paris, cidade que pareceria uma Disneylândia se comparada com as metrópoles brazucas. Também fecho janelas, sou cauteloso por onde ando. São minhas cicatrizes de guerra...

Kiss,

Lelec

PS: Aproveite o sol e vá ao parque descansar. Nada melhor do que curtir a primavera européia em um gramado verdejante, sem perigo de assalto.

Vinicius disse...

Patricia,

Acho que voce vai gostar de saber. Agora temos o "Bolsa Floresta", literalmente para pagamento de "fiscais da Natureza".

Vinicius

http://www1.folha.uol.com.br/folha/bbc/ult272u400655.shtml

... O local foi escolhido como o primeiro para a implementação do projeto Bolsa Floresta, que promete investir nas comunidades ribeirinhas e dar R$ 50,00 para cada família que preserve a floresta ...

patricia m. disse...

Vinicius, brazuca adora uma bolsa heim... Ô pobreza dos infernos, meu. Não sei porque não trabalham, ô povo va-ga-bun-do!

Eu prefiro Prada, sabe como. Comprada em Roma mesmo, na frente do Vaticano, de um africano que deve ter atravessado o canal a nado. E ainda por 1/4 do preço pedido, claro, tá pensando que eu sou otária?

Cláudio disse...

Ah, isso não é coisa que nos abandone assim. Não importa meu destino, sempre estou com meu carioquímetro ligado. Eu sei que em muitos lugares ele é completamente dispensável, mas já faz parte de mim, fazer o quê?

patricia m. disse...

Claudio, nunca mais seremos os mesmos, após termos passado uma temporada de nossas vidas em Banania. Estamos marcados para sempre. Trágico.

Cláudio disse...

É trágico, mas tem um lado bom: muitas coisas que os habitantes de países civilizados tratam com um certo desdém nós, oriundos da Repúplica Popular do Bananão, curtimos de montão. Por exemplo, eu bababva nos metrôs de Paris e Nova Iorque, assim como nos trams de Zurique ou Genebra. Curtia, maravilhado, as vantagens de usar um transporte público que me levasse a todos os cantos. Enquanto isso, para os locais, era business as usual. :-)

As mesmas cicatrizes que nos impedem de viver a plenitude de um lugar civilizado, nos fazem curtir mais intensamente as coisas que os locais têm como garantidas.

patricia m. disse...

Claudio, isso é verdade. Alem do mais, obviamente, nao me canso de apreciar a liberdade que tenho de voltar as 2 horas da manha de onibus para casa, sem ser incomodada. Isso deve ser comum para um ingles. Eu entro em extase toda vez que faco isso.

direto do abismo disse...

Patrícia, essas cicatrizes da guerra em Banânia que mata muito mais do que no Iraque acho que são piores que tatuagem para sair...

Ah, assim que tiver um tenpinho vou resolver os problemas "técnicos" lá no blog. Me fala qual a velocisase de que você dispôe aí, OK?
Bjs
Suzy

Blogildo disse...

Continue com sua "mineirice" desconfiada. É sério. Tudo bem que Londres não é Belô. Tampouco pode se comparada com o Rio. Mas, como vive repetindo o Reinaldão: "nada do que é humano me é estranho".