A Milésima Partida
Partir é morrer um pouco, já diziam isso muito antes de eu nascer. Se fosse realmente verdadeiro o ditado, eu já teria morrido por completo. Já deixei tantas pessoas e tantos lugares para trás, que me perco de vez em quando na memória. Como era mesmo o nome daquele rapaz que conheci em Porto Alegre e que era fã do Atlético Mineiro? Ah, esse era o Alisson. Certo. E o nome do meu chefe paulista na Embraco? Esqueci completamente....
Eu tenho a receita de como não se deixar morrer, toda vez que decidir partir. Tive de descobrir por conta própria, obviamente, mas sempre deu resultados. Há que se ter cabeça e peito abertos para o desconhecido, ou a minha receita nao adianta de nada. Quem cria raízes, na terra há de ficar. Não foi feito para voar.
O segredo do sucesso basicamente é colocar em um compartimento do cérebro (e do coração) as lembranças mais recentes do local de partida, dos amigos feitos, das risadas, das festas, das alegrias, dos choros... Liberando um pouco de espaço, poderá repetir tudo isso no novo local de chegada, com os novos amigos, as novas risadas, festas, alegrias e choros. É como limpar o HD do computador. Não, limpar não, que é um termo pesado demais; é como comprimir os arquivos existentes de forma a criar espaço suficiente para os novos.
Aliás, chegar em outro lugar completamente novo é como mudar de emprego: dá sempre aquele friozinho na barriga, será que vai dar certo, será que vou me adaptar, será que vou dar conta, será que vou fazer amigos...? Os acomodados nunca o farão, pois dá muito trabalho no início. Você tem que se provar a cada passo. Mas a recompensa sempre vem, assim como vem quando se troca de emprego.