domingo, 22 de novembro de 2009

Lógica Elementar

Eu não sei se ensinam mais um mínimo de lógica nas escolas inglesas. Mas é necessário ter um conhecimento básico de lógica para se tocar a vida de uma forma decente no dia-a-dia. Olhem só o que me aconteceu ontem:

Cenário:

O estacionamento do "condomínio". Eu moro em uma casinha geminada a várias outras casas (tipicamente classe média inglesa das docklands reconstruídas nos anos 80) e temos um grande estacionamento em comum, mas cada casinha tem uma única vaga de estacionamento garantida e numerada.

A minha vaga estava ocupada por um carro reincidente - ele já havia parado lá antes no passado e eu já havia deixado um bilhetinho no para-brisa dizendo que a vaga era minha - desde a noite anterior. Não havia deixado bilhete dessa vez, e eis que estava voltando do supermercado com meu carrinho de compras quando vejo os donos ao lado do carro. Dirijo-me a eles.

Diálogo:

Patricia: - Essa vaga é minha. Você poderiam retirar o veículo?
Homem: - Ah ok, sem problemas, vamos retirar.
Mulher: - A vaga é sua??? Onde você mora???
Patricia: - Moro aqui (apontando em frente). A vaga é minha. Isso aqui não é espaço público, é propriedade privada.
Mulher: - Eu sei que não é espaço público. Ah mas o que pessoas com 2 carros fazem? Não há espaço para estacionar!!!
Patricia: - Eu não sei, estacione na rua. Mas essa vaga é minha. Cada um tem sua vaga. Quer alugar, eu alugo.
Mulher: - Aquele vizinho lá tem aquela van (apontando), e mais aquela (em tom ligeiramente histérico) e mais aquele carro, ele ocupa 3 vagas!
Patricia: - Eu não sei, por que você não conversa com ele então? Essa vaga é minha.
Homem: - Não se preocupe, nós vamos tirar.
Patricia: - Obrigada.

Conclusão:

O argumento dela é ridículo. Porque o vizinho da frente usa 3 vagas, tem ela direito de usar 2? Eu não sei o que o vizinho da frente fez para conseguir 3 vagas, e para falar a verdade não quero nem saber, ela que vá se entender com ele. Mas não é porque ele usa 3 vagas que ela tem direito de usar a MINHA vaga. Mesmo que eu não tenha carro, como é o caso. E mais, ela sabe que está errada porque sabe que a minha vaga é propriedade privada e portanto ela está invadindo o meu terreno. Em segundo lugar, cada casa tem apenas uma vaga, logo ela já deveria saber disso se alugou a casa e deveria então ficar feliz em estacionar o segundo carro na rua.

Meu, numa boa, há cada um... Eu fiquei com vontade de apontar todos os zilhões de defeitos na argumentação dela, totalmente falha. Bancou a idiota. E eu simplesmente repeti a mesma frase que ela não foi capaz de rebater porque afinal de contas a vaga era minha e eu faço com minha vaga o que eu quiser.

O socialismo ainda não chegou (AINDA!) aqui nas ilhas britânicas. Se ela quiser alugar, são 20 libras a semana. Discussão encerrada. E da próxima vez que o carro dela estiver lá parado, vou fazer uma reclamação formal junto ao concil.

P.S.: a primeira vez que vi um carro parado na minha vaga preparei-me mentalmente para esse embate. Pensei, "se a pessoa vier com o lero lero de que não tenho carro, vou dizer então: quer dizer que se houver um cômodo livre na sua casa eu posso ir lá ocupar, né, já que você não usa mesmo...?" A vaga é minha por direito, façam-me uma proposta de aluguel e chegamos a um acordo, não querem alugar não é lá que vão parar. Enquanto eu estiver em casa, obviamente, porque "o que os olhos não vêem o coração não sente."

4 comentários:

António Conceição disse...

Provavelmente o seu vizinho das três vagas paga pelo uso de três vagas.
Mas é impossível explicar a mediocridade a um medíocre.
No primeiro ano em que dei aulas, o professor de quem eu era assistente deu-me uma lição: uma aluna vei reclamar da nota que lhe foi atribuída no exame. Numa escala de zero a vinte, tinha tirado dois.
- Não compreendo, professor, como é que posso ter tido só dois no exame - argumentava ela.
- É natural - explicou o professor - Se percebesse a razão de ter tirado dois, não tinha tirado dois.
É o caso da sua interlocutora. Se ela percebesse o seu argumento, nã tinha estacionado o carro na sua vaga.
Nunca deve esquecer-se que cerca de 90% da população é estúpida e, desses 90%, metade é muito estúpida. Nunca conseguiremos que um estúpido seja razoável e compreenda o óbvio.

Blogildo disse...

Lógica elementar - isso ainda tem nas escolas?
Dia desses uma amiga me confidenciou que iria entrar num cursinho para fazer concurso público. O cursinho oferecia uma bolsa de 100% (ou seja, aulas gratuitas), se a pessoa passasse num exame elaborado pelo próprio cursinho. Ela me disse que estava estudando para a tal prova e que se passasse, vangloriou-se, estudaria de graça.
Percebeu a incoerência? Se ela passar no exame do cursinho, ela não precisa estudar, pô.

João Batista disse...

Não há nenhum problema de vagas entre vizinhos que uma pequena série de falsas minas antitanque de aparência convincente não possam resolver.

jg disse...

Este Funes é um danado de um usurpador de comentários.
Quem ia dizer meismo que não é possível expliacar a um medíocre a um medíocre, era eu.
Mas já agora fica sabendo seu Funes que é possível prever e agir por forma a dar luta e afastar gente estúpida.
Só não resulta meismo é com gente muito estúpida.