domingo, 28 de novembro de 2010

Era de Aquário

Estou eu no Café Rouge de Marylebone, a fazer minha refeição de domingo, sozinha como de hábito. Sento-me ao lado de um casal de meia idade, saco o blackberry da bolsa e começo a jogar Paciência e a ouvir a conversa deles. Como de hábito.

Percebo que não são um casal propriamente dito, pelo jeito da conversa marcaram um encontro pela internert. A blind date como se diz em inglês.

Ele eh inglês e tem uns 50 anos, ela - descubro mais tarde - deve ser ucraniana e no final dos 40.

Não combinam em nada. Ele eh narcisista e domina a conversa. Conta sobre as ex-namoradas e diz que teve a chance de se casar com 2 delas, uma nos anos 90 e a outra nos 2000, mas achou que não estava preparado. Agora quer se casar e não tem ninguém. Meu pensamento: com 50 anos, sério? Diz ele ainda que a primeira dessas namoradas ele a estava esperando, pois estava escrito em seu mapa astral. Eu: sério??? Diz ele que a segunda namorada foi uma total surpresa, pelo visto os adivinhadores não adivinharam essa!

E continua ele a tecer teorias sobre o que eh desejável em mulheres, o que não eh, etc e tal... Imagino que o tipo deve ter vivido a juventude nos anos 70, na era de aquário, saca, use a camisinha e transe com o maior número de mulheres, liberação total. O pior de tudo eh ver o tipo hoje em dia, e aí, chapa, foi uma vida bem vivida? O que você ainda procura, uma companheira?

Diz ele que a média de duração dos casamentos na Inglaterra eh de 10 anos... Oh que alívio, o meu já dura mais do que isso. A intenção eh que dure para sempre, pois eh por isso que as pessoas se casam.

Ela dá alguns conselhos a ele sobre as ex. Diz que precisa de uma conexão espiritual com a pessoa. Penso: com esse aí, espiritualidade só se for com mapa astral na frente. Daí ela cita que vai à igreja católica ucraniana, sei onde fica essa igreja. A missa eh em ucraniano, óbvio, por isso acho que ela eh ucraniana. Pelo menos tem sotaque de europeu do leste, para as bandas da Rússia. Não eh bonita, está maltratada pela idade e parece mais uma camponesa com os cabelos estupidamente oxigenados, louros de doer a vista.

Pedem a conta, cada um paga a sua. Imagino, que domingo horroroso, passar com um total desconhecido falando de sua vida privada em busca do amor perfeito, da cara-metade, como ele diz. Mal sabe ele que a cara-metade não está nos mapas astrais, mas na dedicação diária e na paciência da convivência.

Nenhum comentário: