Amar o Próximo
Ontem ia para a casa de uma amiga, de metrô obviamente. Quando adentro o vagão, há um espaço do lado de um gordo e outro mais folgado entre duas garotas negras. Sentei-me aí. Acontece que as duas imbecis estavam juntas - por que não se sentaram então uma do lado da outra?
Cruzei os braços e fiz cara de pôquer, já que a da esquerda estava encostando o seu cotovelo no meu - eu tenho horror de que me toquem. Não contente com isso, ela estende o braço para pegar algo da outra, e toca o meu casaco que estava por cima do meu braço cruzado - eu pude sentir a pressão do braço dela. Fiz cara de superior, do tipo que não ligava a mínima para o que estava acontecendo - afinal era ponto de honra manter o lugar até que descesse na estação que iria descer e não cedesse de jeito nenhum o assento para elas. Mas a minha vontade, juro, era pegar uma faca e enfiar primeiro na barriga da garota da esquerda, para ela deixar de ser idiota, e depois na barriga da da direita, por ter amigos idiotas.
Imaginei até a cara que os outros passageiros fariam quando vissem a cena - um pouco horrorizados talvez, alguns talvez se solaridarizando - de qualquer forma a minha cara de ódio brutal no momento crucial das facadas os avisariam de que o melhor seria não discordar de mim. E sairia pisando forte do vagão para que ninguém duvidasse de que eu poderia sim matar por qualquer motivo se algum estúpido pisasse no meu pé.
Daí no meio do devaneio lembrei-me que se fizesse isso muito provavelmente passaria o resto dos meus dias em uma cela de prisão e a idéia não me agradou.
Logo em seguida me veio à cabeça que eu me auto-proclamava cristã e que portanto deveria ter piedade das garotas que afinal de contas eram somente umas brutas animalizadas que não haviam recebido educação nenhuma na vida e que portanto agiam como deveríamos esperar que agissem.
Amar o próximo é na verdade missão impossível. Ainda bem que podemos contar com a lei dos homens para nos ajudar a chegar no reino dos céus.
Um comentário:
Semana passada eu mesmo estava esbravejando na fila de saída do aeroporto de Guarulhos, verbalizando esses seus sentimentos internos em voz alta para o meu colega: “E se agente fosse matando as pessoas da frente?” – apontando uma mão-revolver para cada pessoa à frente na fila. “Aqui era bom passar com um 4x4 por cima” – sinalizando o caminho com a outra mão. “Mas depois de uns 5 o próximo travaria o eixo...”
As pessoas começaram a virar a cabeça para olhar quem era o louco dizendo aquelas coisas, se era sério ou brincadeira.
Meu colega carregava um daqueles tubos de papelão para enviar papeis pelo correio, de um metro e pouco, com vários adesivos escritos “TSA Inspected”, e eu disse: “É só para isso que serve esse negócio... para fazer polpa...”. Dentro do tubo, não propriamente uma espingarda, mas um taco de baseball de metal, que eu realmente só comprei para isso mesmo, já que comecei a plantar tomates.
Postar um comentário