terça-feira, 18 de setembro de 2007

Desenvolvimento Urbano

Eu tenho cá umas hipóteses que gostaria de partilhar com vocês. Estava pensando nisso ao andar por Londres esses dias. O assunto é o desenvolvimento de uma cidade.

Hipótese 1:
Penso que o número de horas trabalhadas pelos habitantes da cidade é diretamente proporcional ao desenvolvimento da cidade. Essa hipótese é relativamente fácil de ser provada. Alguém já viu alguma região praiana (com praia de verdade, não basta estar na costa para ser chamada de praiana) ser mais desenvolvida? O pessoal prefere curtir a vida, logicamente. O sujeito abre uma pousadinha, um negocinho, trabalha metade do ano - de preferência na alta temporada - e passa o restante do ano vivendo dos frutos. No ano seguinte é a mesma coisa. Riqueza gerada? Nenhuma. Acontece exatamente assim em Florianópolis. Sempre a comparei com Joinville, uma cidade industrial muito mais desenvolvida e rica. Os floripenses morrem de ciúmes dos joinvillenses, mas fazer o quê? Os caras lá trabalham, oras.

Aposto que os cariocas já pensaram que iria compará-los aos paulistanos. Lógico que o mesmo racional acima vale também para esse caso. Mas vamos a um outro exemplo, não necessariamente praiano: Brasília. Devido ao funcionalismo público exacerbado, Brasília é uma cidade atrasada. Podem até me dizer "oras, mas tem uma das rendas per capita mais altas do Brasil". Isso não mede desenvolvimento. Tirem o governo de Brasília e aquela cidade acaba. Não gera riqueza nenhuma; aliás, a meu ver, destrói.

Para sair do Brasil, comparo agora Londres com New York. Nao preciso nem dizer que New York bate Londres de goleada. Fui a um edifício no domingo onde havia uma placa dizendo que alugavam apartamentos. O escritório da firma, dentro do edifício, estava fechado. Pergunto ao porteiro se ele pode me informar o telefone da firma. "Não tenho", foi a resposta. "Incompetência a de vocês todos", pensei apenas. Se ele fosse esperto e mais antenado no mundo poderia começar a recomendar clientes para a firma e quem sabe subir na sua vidinha de porteiro. "Quando é que eles trabalham então?", perguntei. "De segunda a sexta das 9 a 5", foi a resposta - uma total surpresa, oh meu Deus, esse pessoal não trabalha? Não aguentei e tive de dar essa resposta, com um risinho meio irônico: "So do I", o que nem era verdade, pois minhas horas são muito mais longas.

Hipótese 2:
Penso que o número de motoboys em uma cidade grande é inversamente proporcional ao seu desenvolvimento. Para os amigos portugueses, um motoboy é um sujeito que anda de moto barata, infringindo todas as regras de trânsito possíveis e imaginárias, quase atropelando pessoas na rua, de forma a levar documentos de uma empresa para outra. É (mal) pago por documento entregue, aí está a chave da questão. O motoboy é uma invenção tipicamente brasileira, mas já está se espalhando pelo mundo. New York não tem motoboys. Londres tem alguns (adivinhem a nacionalidade dos dito cujos...). São Paulo é infestada. Não preciso colocar em ordem o nível de desenvolvimento dessas cidades. Eu aposto que Tokyo não tem motoboys, mas ainda não pude ir lá confirmar esse fato.

Se quiserem me dar inputs sobre as hipóteses acima citadas, agradeço enormemente. Quem sabe um dia vira tese de doutorado em desenvolvimento urbano. Se quiserem doar dinheiro para a pesquisa, show! Assim poderei ir a Tokyo confirmar o número de motoboys na cidade...

16 comentários:

Zé Costa disse...

Sobre Brasília, o diagnóstico está certo. Isso aqui é uma província. O metrê não funciona sempre, liga nada a lugar nenhum. O fim de semana a cidade vira um cemitério.

Os ônibus são uma piada, além de muito caros.

Algumas pessoas aqui se acham melhores do que outras, só porque fizeram ou fazem UNB, acredita?

Diversão do brasiliense é beber muito. Aqui, adolescentes bem como estilo de vida, seguem os adultos.

Teatro? Show? não venha para Brasília esperando isso. Tem coisas boas? claro! Mas as piores, superam.

António Conceição disse...

Vou pensar. Mas suspeito que há aqui algumas falácias.

patricia m. disse...

Funes, voce sempre pode me contradizer. Por isso mesmo sao hipoteses, e nao teorias. ;-)

Anônimo disse...

Na minha opinião, a Europa é muito atrasada quando comparada com os EUA. Seguem algumas das minhas experiências com Londres.

Tive que enviar dinheiro para banco Inglês para pagamento de material técnico-científico pois os fornecedores (plural mesmo) não trabalhavam com cartão de crédito, apesar do material ser vendido via Internet. Está muito perto do Bananão em que voce compra pela Internet, mas paga através de boleto bancário.

Senti que não era bem-vindo tanto a um pub ou restaurante quando chegava relativamente perto do horário do estabelecimento fechar, ou seja, cliente só é bem-vindo na hora em que estão dispostos a atendê-lo.

Não encontrei nenhum Shopping Center minimamente comparável aos melhores de São Paulo.

Existe uma certa cultura de preservação com relação aos edifícios da cidade, o que deve dificultar em muito derrubar as velharias e construir coisas novas.

Daniel F. Silva disse...

Fora de tópico, mas não resisti.

E aí, Patrícia? Qual foi a primeira música que lhe veio à cabeça ao sobrevoar Londres?

Blogildo disse...

Daniel, arrisco chutar que ela pensou em London Calling do Clash.


Patrícia, as teorias são interessantes. Um amigo meu me disse que não existiria Nova Iorque se não existisse Londres. Acho que essa cultura européia do "bem-estar" acaba influenciando negativamente o desenvolvimento.
Fecho com Alan Greenspan!

patricia m. disse...

Desculpa ai gente, mas voces erraram feio a musica que estava ouvindo ao sair dos EUA, que era a mesma que estava ouvindo ao chegar a Londres... :-)

Country music, ai que saudades ja dos EUA, putzgrila. Oucam ai um dos hits do momento na terra de marlboro: Brad Paisley com ONLINE. O clip eh fenomenal, haha, quem aparece la eh o gordinho que faz o amigo do Seinfeld. Show. Link da musica:

http://www.esnips.com/doc/14d6de54-6e6f-42db-88e8-631e96cd24a7/Brad-Paisley---Online

patricia m. disse...

Anonimo, outro dia eu e 2 americanos estavamos justamente comentando isso. Se a Luftwaffe tivesse feito um servico mais bem feito ao bombardear Londres na Segunda Guerra, estariamos livres hoje em dia das velharias. Detesto coisa velha. Mas que os ingleses nao nos oucam, haha.

Daniel F. Silva disse...

Eu também pensei nisso, Onildo. Mas ela já respondeu...

Cláudio disse...

Opa! Pera lá! Minha segunda casa, o Hawaii, é praiano até o osso e é muito desenvolvida! :-)

Cá entre nós o mundo se divide em EUA, a meiuca e o resto. Temos países interessantes na meiuca. Por exemplo, a Suíça me surpreendeu positivamente em vários aspectos. Um mix de modernidade e conservação interessantes. Serviço bom (exceto em um restaurante - italiano - onde o garçom ficava reclamando quando os clientes demoravam a escolher os pratos). Achei perfeitamente morável.

Cláudio disse...

By the way: countryzinho show de buela esse, hein! Vai pra minha lista. Nada se compara a uma viagem de carro ao som de um country. :-)

Anônimo disse...

Patricia,

Veja outro exemplo do que comentei em 19/9/07 5:12 AM. Não tenho certeza do que seja um sterling cheque (cheque em GBP?), mas acho que vai ser difícil achar aqui no Bananão.

Anonymous

----- Original Message -----
Sent: Wednesday, September 19, 2007 5:13 AM

I am afraid I have no facilities for accepting credit card details. Please can you pay by bank transfer or sterling cheque.

patricia m. disse...

Claudio, adoro country, haha. E verdade, nada como country tocando enquanto se viaja de carro... :-)

patricia m. disse...

Anonimo, sterling check eh cheque em libras mesmo, mandado de um pais para o outro. Tem esse produto em bancos no Brasil. Hahahaha, que atraso de vida heim, nao aceitar credit card. Estao na era vitoriana ainda. Ai ai ai.

patricia m. disse...

Claudio, moravel metade do mundo eh, ate o Bananao. A questao eh outra. E carreira? Se voce mora em um pais onde ninguem faz questao de trabalhar duro, voce tambem nao trabalha. Ou se trabalha eh um otario, porque nao vai ganhar nada a mais com isso. Aprendi isso a duras penas no Bananao, em um banco socialista em que trabalhei (isso mesmo, nao leu errado: banco EUROPEU logicamente socialista). Ah, para dar uma dica: esta sendo vendido o tal banco socialista. Bem feito, davam pouco lucro. Socialismo nao funciona.

patricia m. disse...

http://www.esnips.com/doc/c47cee94-d6eb-4abb-8678-684b8d071744/Brad-Paisley---Online