quarta-feira, 14 de março de 2007

Gloria in Excelsis Deo

Ou de como voltarei a frequentar Missas.

Antes de comecar o post, acho que deveria fazer alguns esclarecimentos. Eu sou catolica apostolica romana, batizada e crismada. Como a maioria dos catolicos, eu nao sigo todas as ordens da Santa Madre Igreja, e muito menos concordo com elas. Tentei buscar outras religioes, e nao gostei de nenhuma em particular. Tentei nao ter religiao alguma, mas sou o tipo de pessoa que aprecia rituais, e nada mais cheio de rituais do que uma religiao. Entao resolvi continuar catolica mesmo, apesar dos pesares.

Entretanto, um dos rituais que mais apreciava no Catolicismo, a Missa, havia acabado ha muito tempo na minha opiniao. Obviamente nao sou do tempo da Missa em latim. Mas sou do tempo em que a Missa era um evento serio. Em primeiro lugar, as pessoas se vestiam bem para ir a Missa. Nada de mini-saia ou blusa decotada, ha que se mostrar respeito na Casa do Senhor. Depois, havia incenso. O cheiro do incenso (e eu tenho uma memoria olfativa estupenda) me remete ainda a tempos imemoriais... O incenso contribui para a elevacao dos pensamentos; alias, o incenso eh o meio de transporte dos nossos pensamentos a Deus. O incenso adicionava uma aura de misterio, de mistico mesmo se quiserem usar a palavra...

Eu tambem sou do tempo em que era proibido bater palma na igreja. Palmas? A igreja eh um local serio. Nao eh para ficar dando risada e batendo palminhas. Eh um local de reflexao, por isso a necessidade de seriedade. Quer bater palma e escancarar os 32? Vai para um bar beber cerveja com os amigos. Nao va a Missa, por favor.

E as musicas entao... Assim como o incenso, a musica transporta os pensamentos, mesmo os mais reconditos. Eu nao quero musica popular dentro da Igreja. Se quero ouvir som de guitarra, ligo o meu I-Pod. Quero musica inspiradora, ritualistica. Quero que tragam de volta os velhos orgaos de tubos, e quando muito um violao acustico e uma flauta. Adorei a ideia de se ter canto gregoriano nas Missas.

E os gestos, acabem com esses gestos ridiculos, por favor. Banam todos! Quando eu era pequena, ninguem ficava imitando o Padre ao rezar o Pai Nosso. Acho que ainda sou a unica em uma igreja brasileira que nao levanta as maos na oracao.

Eh por essas e outras que parei de frequentar as Missas. Agora que o Papa Bento XVI quer resgatar o sentido da Missa, voltarei aos templos. Feliz da vida! E o Padre Marcelo e os carismaticos de plantao que fundem uma seita neo-pentecostal. Poderao cantar, rebolar, bater palma, enfim, fazer o carnaval que quiserem, do jeitinho que quiserem... Mas deixem a Missa Catolica voltar a ser o que era: um momento de reflexao.

16 comentários:

Blogildo disse...

Gostei desse seu lado conservador. Quem diria! Por sinal, todo mineiro eh chegado numa tradicao catolica!

Tenho minhas desavencas com a Igreja, como voce sabe. Creio que o Marcelo Rossi ainda vai durar muito tempo como lider carismatico. A Globo adora ele! Rsrsrsrs!

Anônimo disse...

Oi Patricia. Como estou afastado da Igreja desde, sei lá..., não vai fazer nenhuma diferença. Mas concordo com você e Blogildo: Padre Marcelo Rossi é um saco!

Anônimo disse...

Se tem algo que me estressa é esse pessoal que fica balançando as mãozinhas durante os cantos. Aliás, muitos cantos já me estressam! Gosto de Missas com canto gregoriano que, aliás, é a única música litúrgica.

Carismáticos, para mim, ficariam melhor na IURD do que empesteando os templos católicos...

patricia m. disse...

Claudio, quer coisa mais horrorosa que as musicas das Campanhas da Fraternidade? O Bento XVI deveria excomungar pelo menos 3/4 da CNBB... Hahahahahahaha.

Anônimo disse...

Patricia, muitos já estão excomungados e não sabem. Ou fingem que não sabem...

Luís Marvão disse...

Patrícia,

Um pouco à margem do Sagrado, veja este gráfico, atente na subida verificada entre os candidatos do campo democrático:
http://www.pollster.com/08presidentialprimary.php

Ao eleger a Hilary como alvo, acho que a Patrícia está a passar ao lado da questão...

Catellius disse...

Patrícia, para não ter que falar que o incenso também elevava as preces dos romanos à Vesta, e outras coisas, vou entrar no espírito de seu texto e dar minha opinião de ex-católico, sem deixar, contudo, de soltar uma ou outra ironia.

Os dons do Espírito Santo, como o dom da cura e da profecia, seriam milagres pois subverteriam as leis da natureza e seriam sinais de Deus. Mas, incrivelmente, o Espírito Santo ficou dormindo por 1900 anos e só começou a operar todas essas maravilhas em seus fiéis - e em larga escala - após os excomungados pentecostais americanos acharem no Evangelho uma brecha para inserirem a catarse de seus ritos africanos. Sabemos que os protestantes puritanos dos EUA sempre foram mais sisudos do que os católicos. Essas coisas semelhantes aos rituais de vodu e candomblé só apareceram no cristianismo com os negros dos EUA. Hoje vemos caricaturas daquela fervor, que pelo menos era autêntico, nos católicos e nos evangélicos brasileiros e de outros cantos subdesenvolvidos.

No pietismo tentava-se ter uma experiência individual com Deus, vitalista. Algo do pietismo influenciou os metodistas e algo do pietismo chegou às primeiras igrejas pentecostais americanas. Mas o pentecostalismo não veio do pietismo, daquele lá do séc. XVIII. William Seymour, começou (talvez uma outra mulher antes dele) com esse negócio de glossolalia e com o rito de catarse nos moldes do Vodu.

Ao contrário da glossolalia atual, no Pentecostes todos os presentes, que vinham de diferentes nações, compreenderam a mesma mensagem da mesma forma. Alguns justificam a glossolalia estilo shá-lá-lá-lá-shimanian-nan-lá-lá com os dizeres de São Paulo "o Espírito vem em auxílio à nossa fraqueza; porque não sabemos o que devemos pedir, nem orar como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com gemidos inefáveis". Gemidos inefáveis não são línguas, para mim. "E aquele que perscruta os corações sabe o que deseja o Espírito...", continua São Paulo. Mas nos encontros Carismáticos (pentecostais) onde a pretensa glossolalia é praticada o "perscrutador de corações" é aquele menino gente boa que tem o "dom de interpretação". "Mas é Deus que interpreta através do menino...", diz o que crê na prática.

Quando falo do Vodu e do Candomblé, refiro-me aos maneirismos pentecostais herdados pela Renovação Carismática da religiosidade dos negros americanos, que por sua vez a tinham impregnada de maneirismos africanos: um pregador gritando de olhos fechados enquanto mil outras pessoas ou repetem o que ele fala ou gritam suas próprias orações, ao som de música gospel ritmada e muito movimento corporal. Horas sem se alimentar, cansaço físico, alucinações decorrentes... Ritual de catarse, enfim. Leiam Sargant para entender bem o processo.

A Renovação Carismática e as Igrejas Evangélicas são essencialmente musicais e a revolução litúrgica que preconizam está diretamente ligada a estilos musicais com forte componente africano, como o rock, o samba, o blues e algumas melodias de influencia jazzística. Nada contra o ritmo. Gosto de rock. Não quero dizer que ele é do demônio, he he, ainda mais porque não acredito que o morcegão exista. Quero somente demonstrar que o canal que trouxe o Espírito Santo de volta ao cotidiano dos cristãos após os 2000 anos durante os quais preferiu agir apenas em santos e sacerdotes foi o vodu (e congêneres), ao menos se considerarmos as catarses dos pentecostais católicos e protestantes como ação do Espírito Santo.

Durante o período em que existia comércio de escravos, o vodu cruzou o Atlântico com os negros que o praticavam, e criou raízes nos EUA (Nova Orleans) e Caribe. O vodu original de estilo africano parece ter chegado mais ou menos intacto por lá. Existiam leis (influenciadas pelo cristianismo) severas contra a execução dessa música, mas com escassos resultados. Tampouco o rito do vodu pôde ser destruído no continente americano. ... Os ritmos dos tambores da África foram transportados para a América e aqui transmitidos e traduzidos no estilo de música que veio a ser conhecido como o jazz. Visto que o jazz, ragtime (e outros, como o Bolden, nascido em Nova Orleans, a capital do vodu norte-americano) e o blues foram os pais do rock'n roll, isso também significa que existe uma linha de descendência direta entre as cerimônias do vodu africano, através do jazz, e o rock'n roll e todas as outras formas de música de rock hoje existentes (sabendo-se que há também o componente irlandês, entre outros). Charles Manson (nada a ver com Sharon Tate), que fundou a Igreja de Deus em Cristo, no fim do séc. XIX, uma das maiores denominações pentecostais dos Estados Unidos, encorajava a música ritmada na igreja como parte da busca pela experiência imediata com o Espírito Santo.

Junto com o ritmo vieram o transe, a dança - a catarse, enfim - essenciais na espiritualidade daqueles africanos. Como devemos olhar os frutos, apenas, para julgarmos a árvore - é o principal argumento daqueles que gostam do "vale tudo" - as cerimônias vodu africanas, plenas de feitiçaria, sacrifícios humanos e orgias sexuais, seriam boas e santas porque deram origem aos maneirismos de Marcelo Rossi e suas missas que mais parecem o carnaval que antecede os períodos de suposto jejum e de suposto recolhimento dos cristãos. O pentecostalismo e a Renovação Carismática, assim, rompem as barreiras que sempre existiram entre a idéia de sagrado e a idéia de profano, e inauguram o culto festivo que vemos por aí, que supervaloriza o êxtase emocional.

Sabemos que os maneirismos dos Carismáticos, idênticos aos dos evangélicos (divergem sobre Nossa Senhora, Papa e Santos, etc.), são uma forte arma para evitar a debandada de fiéis para seitas protestantes. Podemos dizer que aqueles que se mantiveram no catolicismo apenas por causa da "animação" da Renovação Carismática e de seus Marcelo Rossi querem, sem o saber, uma mera terapia em grupo. Garanto que a debandada para seitas pentecostais seria radicalmente maior se a Renovação Carismática buscasse o contato com o inexistente Espírito Santo sem música, glossolalia, profecias, danças e catarses, apenas com as mesuras, incensos, grandes obras polifônicas de bem comissionados compositores agnósticos e os ambientes tradicionais católicos que ainda não viraram museu ou hotel. Afinal, junto com o poder a Igreja perdeu a capacidade de intermediar a "inspiração" de bons compositores, bons arquitetos, bons escultores e pintores. E agora as "casas de deus" são umas porcarias desproporcionais. É, nobreza decadente é isso aí. Deus abandonou o castelo no Mediterrâneo onde morava com a pomba, o enteado e a mulher de hímen complascente, e mudou-se para onde o parco dinheiro hoje conseguido junto aos corretores imobiliários de lotes no céu permite: Haiti, Brasil e outros paraísos católicos...

Do ponto de vista biológico as catarses, ritmos e danças fazem o cérebro liberar ocitocina em boa quantidade (presente no orgasmo sexual), endorfina e outros hormônios do prazer que podem levar o "usuário" a querer cada vez mais catarses, mais danças, mais música alta.

Eu já fui Cavaleiro de Malta, e tenho inúmeras comendas por "serviços prestados" à cristandade, he he. Sou um belo de um apóstata. Perto das reuniões da Ordem de Malta, que é anterior a ordem templária e é a única das ordens de cavalaria cruzadas que ainda existe, as tradicionais missas que você voltará a freqüentar parecem os cultos do Marcelo Rossi, he he. Deixei estas coisas rançosas e pretensiosas para trás. Assistir missa com canto gregoriano e jogar RPG é a mesma coisa para mim. É isso mesmo. Mais valeria jogar RPG e fingir que eu sou o próprio Jacques de Molais...

Abraços e curta o que resta de sua fé (acho que vou fazer um post disto aqui, ha ha ha)

patricia m. disse...

Marvao, Giuliani jah!!!!!!

patricia m. disse...

Catellius, otimo comentario. Eu realmente acho uma pena que, para ir atras de fiel, a Igreja teve que se prostituir. Nao precisava. Deixem os "infieis" para as neo-pentecostais. Deixem o dinheiro dos "infieis" para as neo-pentecostais. Padre (padre?!?) Marcelo Rossi quer mais eh vender cd de musica pop.

So nao concordo em um ponto: seu conselho sobre o RPG. Nao que nao goste de RPG, ja joguei muito MUDD na epoca dos terminais de fosforo da IBM. Mas esse nao eh o ponto. Eu nao vou a igreja para ficar fantasiando sobre cavaleiros templarios ou coisa do genero. Eh puramente um momento de reflexao, como disse. Poderia fazer isso em casa? Com certeza. Mas como disse no post, os rituais me agradam. So por isso. :-)

António Conceição disse...

Minha cara,

Apareço aqui por acaso, ao navegar por aí.
Concordo com muito do que diz. Discordo de muito do que diz (em geral, não especificamente no que diz respeito a este post).
Aprecio, acima de tudo, a sua frontalidade e a capacidade de pensar pela sua própria cabeça. Coisa muito rara em blogs de língua portuguesa (brasileiros ou portugueses), onde a regra é o lugar comum do politicamente correcto.

Zé Costa disse...

Patricia

A seara da fé é sempre polêmica, e por favor, desculpe se eu não for tão sucinto quanto o Cattelius.

Não sou católico, como o Blogildo sabe, mas sempre apreciei o Canto Gregoriano e algumas tradições da Igreja Católica. Claro que já fui à missas, e confesso, não me atraíram em nada. Da missa ou dos cultos aprecio mais a pregação ou o sermão, é nessa parte que fico mais atento. (Na sua lista de livros inclua os sermões do Padre Vieira)

Também não bato palmas, não porque ache errado, mas tenho uma certa timidez e um certo medo de parecer ridículo.

Espero que você volte sim a frequantar as missas, afastar-se da Igreja é um duro golpe na fé, e sem fé tudo é muito mais díficil.

um abraço.

MANUEL HENRIQUES disse...

Patricia,

Excelente posta. Acho de facto que a Igreja Católica (de que sou crente fiel) não tem de procurar a todo custo um aggiornamento "moderno".

Ano passado, de férias no Guarujá (em Domingo de Ramos) fui a uma missa nessa cidade litorânea.Vi muitos dos problemas de que fala.

Anônimo disse...

"Como a maioria dos catolicos, eu nao sigo todas as ordens da Santa Madre Igreja, e muito menos concordo com elas."
Olha que comungar em estado de pecado mortal faz mal...

patricia m. disse...

Leroy, pois eh, por isso nao comungo...

Anônimo disse...

Você escreve muito bem...

ROF disse...

Hoje, é com muita tristeza que vemos como a sobriedade e a sacralidade da igreja é jogada pro alto junto com os "louvores" da rcc e de outros grupos neo-pentecostais. O pior é queficamos atados, sem terpra onde correr na maioria das vezes e acabamos por abandonar a igreja